sábado, fevereiro 18, 2006

Cangalheiro

F.F. entrou e desculpou-se pelo atraso. Ofegante como o seu fato escuro, amarrotado, camisa branca e gravata preta, tímida dentro do colete, daquelas fininhas que parecem fitas. Ali estava ele, desculpando-se num sorriso de milhares de dentes miudinhos e delimitados por pequenas sombras. A. M. sorriu, condescendente, com ar de vida ofuscando aquele retrato de morte. "Sabe - diz FF- tive três funerais hoje". "Ah, desculpe, os meus pêsames", dispara A.M. incomodada e um pouco sem jeito. "Não, não, menina, fui eu que fiz os funerais!" - a resposta sepulcral de FF selou a conversa.